Brasil ainda lidera mortes por Chagas. Segundo estudo, o país concentra 68% das mortes por Chagas no mundo, apesar da queda global de casos.
Um novo levantamento internacional reacendeu o alerta sobre a doença de Chagas e destacou o peso do Brasil no cenário mundial.
O estudo GBD 2023 (Global Burden of Disease), mostra que, embora o número de casos e óbitos tenha diminuído nas últimas três décadas, o país ainda responde por mais de dois terços das mortes registradas em todo o planeta.
Só em 2023, foram contabilizadas 5.700 vidas perdidas, o maior volume absoluto entre todas as nações analisadas.
Por que o Brasil ainda concentra tantas mortes?
Os dados do estudo mostram que a carga da doença permanece alta por um motivo central: o grande contingente de pessoas infectadas há décadas.
A Chagas é uma enfermidade crônica, causada por um protozoário transmitido principalmente pelo barbeiro, e suas complicações costumam aparecer somente muitos anos depois da infecção.
Nesse sentido, especialistas explicam que parte dos pacientes que adoeceram nas décadas de 1970 e 1980 apenas agora está desenvolvendo formas cardíacas graves, que podem levar à morte.
Ao mesmo tempo, o país reúne quase metade dos infectados do mundo — cerca de 4,1 milhões de pessoas. Mesmo com a redução progressiva de casos e melhorias socioeconômicas, esse “estoque histórico” continua pressionando o sistema de saúde.
Uma doença que mudou de perfil
Com o aumento da expectativa de vida e o acesso a medicamentos para insuficiência cardíaca pelo SUS, muitos pacientes passaram a viver mais.
Assim, a Chagas se tornou uma doença predominantemente associada ao envelhecimento, com maior prevalência entre 50 e 65 anos.
Embora isso represente um avanço, também traz desafios, já que as complicações cardíacas e digestivas exigem acompanhamento contínuo e estrutura especializada.
Gargalos que dificultam o combate à doença
Apesar dos progressos no controle do barbeiro e na melhoria habitacional, ainda faltam etapas fundamentais para reduzir a mortalidade.
Afinal, a triagem em populações vulneráveis é insuficiente, o acesso ao ecocardiograma é limitado em várias regiões e a oferta de dispositivos cardíacos, como marca-passos, continua desigual no país.
Detectar o paciente cedo é crucial, já que o tratamento antiparasitário tem melhores resultados nas fases iniciais.
A expansão da Chagas para além da América Latina
O estudo também aponta um crescimento expressivo de casos em países não endêmicos, impulsionado pela migração.
Estados Unidos, Espanha e Itália registram aumentos acima de 50% desde 1990, e muitos desses locais ainda não possuem protocolos adequados de rastreamento e diagnóstico.
A persistência da doença, reforçam os pesquisadores, segue refletindo desigualdades profundas no Brasil e no mundo.
Saiba mais em: Jornal de Brasília.





